sábado, maio 17, 2008

O dia que o My Bloody Valentine assistiu o show do WRY


Deixarei de lado um pouco a poesia, a prosa e o verso, pra relatar aqui um dia espetacular. O melhor dia dos 6 anos morando em Londres. Foi dia dezesseis de maio de dois mil e oito. Quando fechei meus olhos e toquei por meia hora nosso set novo que o Brasil ainda está para conhecer; e que assim também em transe fizeram Luciano, Chokito e Andre.
Eu já sabia que existia a possibilidade de Kevin Shields (My Bloody Valentine) vir ao show, já que sua namorada, Charlotte, era a vocalista da banda que tocaria antes da gente. Foi no Buffalo Bar, a qual podemos dizer que é nossa casa nessa cidade cinza e sarcástica. E também, eu havia conhecido Kevin em uma outra noite quando essa mesma banda, Le Volume Courbe, havia tocado.

Já na passagem de som, estava lá eu falando com Douglas Hart (The Jesus and Mary Chain) - que também já conhecia antes e que é baixista do Le Volume Courbe - sobre a cover do Jesus que o WRY fez para uma coletânea britânica da ClubAC30 de bandas contemporâneas tocando clássicos de bandas shoegaze do passado, que vai sair em breve chamada Never Lose That Feeling #3. Sabe que acabei dando uma gafe quando fui perguntado qual era a musica que fizemos e não lembrei o nome, que agora com facilidade preenche minha cabeça: Some Candy Talking.
Fiquei nervoso depois disso. O bar estava quase para abrir e vi a lista de convidados: Kevin Shields, Colm O'Ciosoig and Debbie Googe (MBV) e Bobby Gillespie. Belinda não viria, que ao meu ver, era justo, já que é uma ex de Kevin; o que estaria ela fazendo num show da namorada atual do guitarrista.

O primeiro a chegar foi Bobby, que conheci um tempo atrás, no mesmo dia que conheci Douglas. Ele parecia perdido, falei com ele e todo estranho me perguntava de Douglas. O povo não estava na bar, estavam num pub ali próximo. Não sei o que deu na cabeça do vocalista do Primal Scream, que saiu rodopiando e foi embora. Mais tarde Douglas confessara que não tinha entendido nada, do porque de ele ter ido embora.

De qualquer forma, tudo isso acima nao é nada comparado com a visão que tive momentos mais tarde - eu sei, sou obssecado, amo MBV acima de qualquer coisa - sei lá porque, mas era como um pastor vendo Jesus e dois de seus discípulos entrando em sua Igreja. Exagero né? Mas tá valendo, não foi meu esse comentário. Mesmo assim, descendo a escada avistei MY BLOODY VALENTINE!
Falei um oi cordial, já que conhecia Kevin. Comentei sobre um assunto que nos ligou em contato desde a primeira vez e perguntei se ele iria ver a gente, disse que sim. Eu saí.

\Às 10.20pm entramos no palco, tocamos os tradicionais trinta minutos de shows que fazemos aqui (e que não aguento mais, não vejo a hora de tocar no Brasil um set mais longo), com meus olhos fechados e a emoçãoo a flor da pele. Não encanei com nada, não errei nada, fizemos simplesmente o melhor show em Londres, na minha opinião. (Me desculpe por ser repetitivo, quando falo que o último foi nosso melhor show, mas se prestar bastante atençãoo, não são todos os últimos shows que acho o melhor. Esse foi.)

Abri meus olhos antes da última música, Disorder, que agora está numa melhor forma do que aquela que tem no Youtube. Brinquei com o público e quando olho, na minha direção, um pouco atrás do povo da frente, Kevin Shields sorrindo pra mim. Abaixei a cabeça e tive a certeza que meu único ídolo estava dando uma certa aprovação com um sinal com o rosto e o sorriso. Beleza, terminou o show e estávamos felizes por mais um desafio terminado e conquistado. Mas não parou por ai.

Já no backstage, amigos vieram falar do show e comentar que o MBV estava curtindo o show inteiro. Já fiquei realizado. Pra mim já poderia ter ido embora aquela hora. Sai do camarim, passei por amigos e fãs que me paravam com comentários e elogiosos. Estava indo no caminho para a porta, a minha namorada estava fazendo a entrada para gente. Vejo a figura de Kevin Shields deixar um grupo com a qual conversava e vir, por entre o aperto das pessoas, falar comigo. Apertou minha mão firme e disse o quanto o show tinha sido bom. Apertou de novo e completou dizendo que teve momentos do show em que ele pensou em músicas novas. Que tinha se inspirado. Eu disse ironicamente que não acreditava no que dizia, mas que depois pagaria uma bebida para ele. Ele sorriu e eu saí dali falar com minha garota, com a cabeça a mil. Poucas coisas me atingem, algumas me matam, como essa acima.

Já eram 11pm e conversamos muito depois, sobre tantas coisas diferentes e até segredos que não são contados a jornalistas, e que não vou relatar aqui rs. Um dia talvez eu te conto pessoalmente. Debbie Googe disse ter sido fantástico o show, de qualidade e de um carisma impressionante. Do Colm, o baterista do MBV, diziam que balançava a cabeça durante o show todo. Foi bem simpático comigo, mas não conversamos, só fomos apresentados. Kevin acrescentou também mais tarde que a música Bitter Breakfast fez ele mesmo pensar numa outra musica. Falando com o Luciano, ele disse que estão escrevendo musicas novas pros shows que vão fazer esse ano. Conversaram sobre pedais. Sons. Ebay. Conversamos sobre cachês, Brasil, Londres, guitarras, Belinda e os ensaios da banda.

Tiveram mais duas gafes: eu derrubei um copo de vinho da Debbie, que na verdade não segurou direito deixando espatifar no chão. E Kevin, quase cometeu a gafe da noite. Tinha um anãozinho em nossa frente uma hora, de costas pra gente. Eu vi quando Kevin tentou cutucar o carinha, mas se retraiu rapidamente cochichando comigo que tinha pensado que o cara estava ajoelhado nos cacos do copo que eu havia quebrado. Imagine que cena seria ele falando pro carinha se levantar.

A noite foi longa e muito divertida, uma noite que ficara na minha memoria. Estavam lá muitos amigos, entre eles toda a Goo Goo Gang remanescente em Londres.