terça-feira, abril 19, 2005

Sorte

Gostaria de poder andar sozinho pelas ruas frias de Londres e queria poder te encontrar te convidar pra vir em casa te contar toda a minha estoria. Alegrias e tristezas. Como todo mundo faz, como eh facil pra eles. Eu queria apenas que voce me ajudasse e me aceitasse nesse pequeno mundo de grandes coisas e conquistas que estao a frente de meus olhos. Gostaria de andar sozinho pelas ruas frias de Londres mais livre. Ouvir o piano tocar minha musica. Poderia gritar e ser ouvido por voce e voce abriria a porta e me chamaria pra entrar.
Como desejaria que aquele menino sentado na calcada ali na frente olhando o vazio de sua vista pudesse me entregar uma bilhete com os numeros certos e as palavras mais fortes de conforto. Os sonhos que ele tem posso ver pipocar pra fora de sua cabeca como bolinhas de isopor ao vento seco e poluido. Eu posso ver o rosto de sua mae dizendo volta pra casa. Sua familia no quintal e na sala. O balde vermelho com agua ate a metade. O cachorro latindo. Os sonhos pipocando. O sol com raios frios queimando sua pele sem desejos. Mesmo frio. Vento. A torneira da cozinha se abre. A irma. A carne. Nunca senti tao alto o barulho da agua enchendo um copo como hoje a tarde.

Agora aqui do lado. Dentro de mim, enche-se o peito. Estou esperando na luz do sol de primavera seu grito de gloria ecoar em meus timpanos. Seu gozo umidecer meu sexo. O telefone tocar para alguem do outro lado perguntar: Posso contar com voce? Porque voce nao vem mais em casa? Porque voce esta chorando?

Ei, nao tem nada pra voce aeh, vem pra ca. Vamos caminhar o cachorro e sonhar com o amanha que nunca vai chegar. Sei que as vezes na melancolia de meu coracao meus pensamentos voam pra procurar o que nao vou encontrar. Mas eu sinto a razao disso tudo ao flutuar e talves seja melhor nao alcancar. Eh tao estranho dar nome ao que nao existe. Eu vim aqui pra me divertir, agora voce pode contar comigo. Estou sorrindo.